Liderança dentro e fora das quadras
O técnico da seleção de vôlei, Bernardinho, também bate um bolão quando o assunto é motivação da equipe
O técnico da seleção de vôlei, Bernardinho, também bate um bolão quando o assunto é motivação da equipe
Enviado pelo amigo Leopoldo Rosado
Bernardo Rocha de Rezende, o Bernardinho, é um exemplo de um líder motivador e eficaz. Suas marcas impressionantes a frente das seleções feminina e masculina de voleibol o tornaram presença quase obrigatória em eventos de motivação, liderança e trabalho em equipe, ainda que com uma agenda complicadíssima. Além do foco em resultado, Bernardinho também se destaca pela sua emotividade, chegando, em alguns casos, a um excesso de austeridade. Mas ele se justifica: "o importante é que o líder seja transparente e autêntico, por isso, a equipe entende que é apenas a minha forma de extravasar meus sentimentos. Eles podem eventualmente duvidar da minha forma de fazer as coisas, mas nunca da minha intenção".
Obcecado pela vitória e pela perfeição, o ex-levantador também costuma se preocupar com a derrota, para que ela não abale a ponto de impedir que o time se levante novamente. Por isso, lembra sempre a todos: "A vida nem sempre é feita de sucessos. O nosso compromisso não é ganhar, é continuar fazendo". Seja qual for o ambiente de trabalho, uma quadra, um gramado, um escritório, uma fábrica.
As lições não param por aí. São conceitos que, se aplicados integralmente nas organizações, as tornariam equipes imbatíveis. Aprenda mais na entrevista exclusiva que o técnico concedeu a Revista Profissional & Negócios:
P&N – Quando e por que você começou a fazer palestras?
Bernardinho – Já faz uns três anos que os convites para participar de eventos têm se multiplicado. As pessoas têm muito interesse e curiosidade sobre nosso trabalho, principalmente pelo fato do voleibol ter se tornado um esporte popular. As empresas estão obviamente preocupadas com sua equipe, com seus colaboradores e querem, antes de qualquer coisa, resultados, por isso buscam descobrir porque nossa equipe vem tendo este resultado, o que é feito de diferenciado, que eventualmente poderia ser útil no seu trabalho.
P&N – Você se considera um líder vencedor?
Bernardinho – As equipes com as quais trabalho têm, de certa forma, me considerado como um líder a partir do momento em que vêem minha dedicação ao trabalho e demonstro não só a minha capacidade, mas a minha preocupação com o crescimento delas. A liderança é muito mais a disposição das pessoas em seguir você, do que a sua disposição em querer ser seguido, ou seja, as pessoas se tornam cúmplices e comprometidas com aquilo que você está propondo.
Quanto ao fato de ser vencedor, no esporte às vezes você vence, às vezes perde. Nós temos vencido mais do que perdido, mas isso tem a ver também com a qualidade das equipes com as quais trabalho, a qualidade destas pessoas é fundamental,
sobretudo o compromisso e o comprometimento delas entre si.
P&N – Então como conseguir superar as vaidades dos talentos e motivá-los para garantir este comprometimento?
Bernardinho – Acho que esta talvez seja a grande questão de todos os gestores: lidar com a vaidade. As pessoas são feitas de egos, que precisam estar sob controle para não atrapalhar a performance individual e do grupo. Uma solução é mostrar no dia-a-dia que as pessoas são interdependentes, ninguém sozinho vai conseguir um objetivo comum. As pessoas que têm grande talento, mas são egocêntricas e não sabem trabalhar em equipe, na minha opinião, não colaboram com a meta maior de uma empresa que é o resultado coletivo. Não adianta um vendedor de uma equipe comercial vender bem, mas a meta coletiva não ser atingida. É importante que ele venda bem, mas que também faça com que toda a sua equipe venda melhor. A empresa vive de resultados coletivos, não individuais.
P&N – Você é um exemplo de liderança eficaz, mas ao mesmo tempo é altamente emocional. Deixar esta emoção fluir é um segredo para o sucesso?
Bernardinho – O mais importante é a transparência, as pessoas precisam saber como você é e quem você é. No caso, sou uma pessoa emocional, então elas entendem que é, simplesmente, uma forma que encontro para extravasar aquilo que estou sentindo, mas com o intuito de fazer elas darem o seu melhor. Acho que o mais importante da liderança é ser transparente e autêntica, eles podem até duvidar da minha forma de fazer as coisas, mas jamais eles podem duvidar da minha intenção.
P&N – Como um vencedor lida com a derrota?
Bernardinho – A vida, como no esporte, tem vitórias e derrotas. Não há como você passar pela vida, numa carreira, seja ela qual for, sem ter uma derrota.
Só não perde, quem não joga. Mas primeiro é preciso lidar com a euforia nas vitórias, porque você tem que seguir em frente e não imaginar que aquilo vai durar para sempre.
Por outro lado também é preciso controlar o excesso de depressão na derrota, entendendo como parte do processo, como uma forma de aprender e se fortalecer. A única forma de sair de uma derrota é levantar de manhã e trabalhar mais e melhor.
É preciso entender que a derrota deve servir como incentivo para uma próxima oportunidade, ou seja, existe uma próxima partida que precisa ser jogada, existe uma próxima venda que precisa ser concretizada, um contrato a ser fechado, portanto, você precisa aprender para não repetir os erros que levaram a esta derrota, usando isto para seu crescimento, com a
convicção de que a estrada continua e que o importante é o caminho a ser percorrido.
P&N – Na sua trajetória de sucesso, você liderou bem equipes formadas por homens e por mulheres. É preciso alguma diferença no estilo de liderança?
Bernardinho – Particularmente não acho que há uma grande diferença. É claro que homens e mulheres são diferentes, assim como entre si, a equipe não é uniforme.
O importante é você conhecer as pessoas e utilizar o que elas têm de melhor a dar.
Se eu pudesse ter times mistos, sempre teria porque acho que a diversidade é muito interessante.
Uma equipe é feita por talentos complementares, portanto seria ótimo se eu pudesse contar com a sensibilidade das mulheres em times masculinos. Muitas vezes, é complicado gerenciar um grupo de homens, porque por serem mais introspectivos, você não consegue entender o que está acontecendo com eles.
A mulher coloca isto para fora e diz qual o problema, o que não significa que você saiba resolver, mas você sabe que tem algum problema e vai tentar buscar uma solução.
Neste aspecto, a leitura destes sinais são fundamentais para um líder, para ele saber até onde pode esticar a corda naquele momento. Portanto é mais fácil trabalhar com mulheres, mas tem uma desvantagem:
elas levam muito para o lado emocional, pessoal, quando na verdade não tem nada a ver com gostar ou não gostar, mas sim com a busca de resultados.
P&N – Como você, um profissional de sucesso, consegue conciliar a vida pessoal e profissional?
Bernardinho – Não é fácil, porque os familiares precisam ter muita compreensão, já que a nossa atividade exige muito das pessoas.
Elas devem entender que muitas vezes não é importante a quantidade, mas a qualidade da relação.
Veja o meu caso: sou casado com uma atleta, e que, portanto, tem uma vida semelhante a minha e tenho um filho atleta que também tem sua agenda própria. Nós nos vemos nas nossas brechas de agenda, entendendo que isso nos afasta fisicamente, mas não emocionalmente. Sempre que termino uma campanha e agradeço a equipe, também agradeço muito os familiares, por entenderem e darem suporte a estes atletas nas dificuldades e nas distâncias, dando equilíbrio necessário para chegar ao objetivo.
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